domingo, 24 de abril de 2011


As empresas ficam vulneráveis sem a atuação do RH?
Fonte: Rh.com.br

Ações estratégicas tomadas nas situações mais adversas e que não podem esperar para "amanhã". Situações como essas acontecem diariamente e em organizações que atuam nos mais diversos segmentos. Além do fato impactarem diretamente nos negócios, as decisões adotadas também influenciarão direta ou indiretamente no dia a dia dos profissionais. É possível minimizar os reflexos das mudanças diante das pessoas que dão vida às empresas? O que se pode fazer para que os colaboradores entendam e acompanhem, por exemplo, os processos de inovação?
A resposta pode ser dada através de uma área de Recursos Humanos que se faça presente em todos os momentos decisivos para as companhias. Segundo Carlos Hilsdorf, economista, pós-graduado em Marketing pela FGV, escritor, consultor e pesquisador do comportamento humano, o RH estabelece a reflexão e o diálogo entre as pessoas e as particularidades do negócio. "Sem este diálogo a empresa torna-se míope frente às necessidades do mercado e de seus colaboradores, perdendo completamente as mínimas condições de obter sucesso sustentável", assinala.
Em entrevista concedida ao RH.com.br, Hisldorf faz um alerta para fatos comuns à rotina das empresas e que necessitam da atuação direta do profissional de Recursos Humanos. A formação do profissional do RH moderno, afirma o consultor, é multiexpertise e estabelece os links interdisciplinares necessários para promover a realização das pessoas e o sucesso dos negócios. Carlos Hilsdorf participará do 5º ConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos) - evento promovido pelo RH.com.br, que acontece no período de 12 a 27 de maio próximo. Durante a realização desse evento que é 100% virtual, ele ministrará a plaestra "O valor da motivação para empresas competitivas". Confira essa interessante entrevista na íntegra e faça uma reflexão sobre o assunto. Boa leitura! 
RH.com.br - Hoje, ao traçar ações estratégicas para as organizações torna-se arriscado deixar a área de RH fora das ações futuras?
Carlos Hilsdorf - A qualidade da execução de uma estratégia depende do comprometimento e da competência das pessoas envolvidas. É o RH que detém a expertise na Gestão de Pessoas, responsável pelo equacionamento das competências e dos incentivos ao comprometimento. A análise e a gestão das competências, o treinamento e desenvolvimento contínuo, o monitoramento do clima e da performance são assuntos que demandam dedicação e conhecimento específico. Qualquer reunião empresarial em que sejam debatidos o presente e futuro da empresa, para a qual o RH não foi convidado, é uma reunião míope. Não se pode tratar de decisões que impactem o futuro e o trabalho das pessoas sem que elas estejam envolvidas e sejam ouvidas. O RH é a área com expertise específica para estabelecer os parâmetros e os denominadores comuns entre as necessidades do negócio e as particularidades do comportamento das pessoas.
RH - Uma empresa que nega espaço para que o RH torne-se estratégico, de fato, pode ser considerada uma organização míope?
Carlos Hilsdorf - Empresas que negligenciam o espaço do RH são arcaicas em seus fundamentos mais básicos. Para estas empresas, a importância do capital humano é apenas retórica. Na ausência de capital humano comprometido e direcionado não ocorrem inovações relevantes. Assim, estas empresas acabam tornando-se obsoletas em curtíssimo espaço de tempo. O RH estabelece a reflexão e o diálogo entre as pessoas e as particularidades do negócio. Sem este diálogo a empresa torna-se míope frente às necessidades do mercado e de seus colaboradores, perdendo completamente as mínimas condições de obter sucesso sustentável.
RH - Pensar em uma gestão competitiva traz à tona a atenção especial que deve ser dada ao ativo intelectual da companhia. A área de RH é a mais indicada para realizar ações com foco nos talentos humanos?
Carlos Hilsdorf - A formação do profissional de RH moderno é multiexpertise e estabelece os links interdisciplinares necessários para promover a realização das pessoas e o sucesso dos negócios. As pessoas precisam de razões coerentes e motivos relevantes para se dedicarem em regime de alta performance. O conjunto de ações necessárias para obter o melhor das pessoas em favor dos resultados dos negócios pressupõe conhecimento da natureza humana e de negócios. O conhecimento da natureza humana frequentemente não é objeto de dedicação e estudo de outras áreas da organização, mas constitui a própria essência e a história da formação da área de Recursos Humanos. É natural que estas ações sejam coordenadas pela área que historicamente vêm acumulando conhecimento relevante e pertinente a estas ações. A liderança de toda e qualquer ação deve, por princípio, caber sempre à área que detenha o maior conhecimento no tema em questão.
RH - Em sua opinião, que atitudes o RH deve adotar no dia a dia para acompanhar as exigências do mercado, em relação à sua atuação como parceiro estratégico do negócio?
Carlos Hilsdorf - Quando falamos em negócios, a tônica é sempre obter resultados. Estes resultados não podem ser atingidos a qualquer custo, caso contrário não serão sustentáveis. Atitudes que demonstrem comprometimento com os resultados de médio e longo prazos, focados na sustentabilidade do modelo de negócios e na obtenção de vantagens competitivas nobres - aquelas difíceis de serem copiadas - são atitudes-chave para o RH da atualidade. Conseguir demonstrar os resultados qualitativos de suas ações e suas repercussões sobre a competitividade da organização é fundamental. Embora os mecanismos quantitativos de mensuração de resultados estejam em constante evolução, muitas das conquistas do RH são implícitas e não são facilmente demonstráveis por indicadores quantitativos de performance. Olhar a foto será sempre diferente de olhar o filme. As conquistas de RH são um longa metragem que jamais deverá ser contemplado por um fotograma isoladamente.
RH - De que forma o RH pode assegurar seu espaço estratégico no ambiente organizacional?
Carlos Hilsdorf - Demonstrando conhecimento relevante sobre a conceituação e as práticas essenciais das demais áreas, suas demandas e desafios, e colocando-se à disposição para colaborar de maneira efetiva e coerente com a evolução de cada uma delas, trazendo contribuições oriundas de sua visão holística e sistêmica. O profissional de RH deve preparar-se para debater conceitualmente com as demais áreas em nível de igualdade no que tange aos conhecimentos essenciais de gestão, marketing e vendas, demonstrando que suas propostas estão alinhadas com as necessidades oriundas destas áreas e contribuem efetivamente para a evolução dos negócios.
RH - Quais as principais competências que um RH deve ter, sejam técnicas ou comportamentais, para ser valorizado pelo mercado?
Carlos Hilsdorf - As principais competências derivam de uma formação cruzada - formal ou não - dotada de visão holística e sistêmica e multiexpertise que permita transitar bem e trazer contribuições efetivas para as diferentes demandas das diferentes áreas da organização. Por definição, o RH deve ser amplo, com modelo mental aberto ao novo e sempre continuamente comprometido em compreender as mudanças comportamentais que ocorrem em cada interação entre a empresa e seus colaboradores no contexto do modelo de negócios em questão.
RH - Ainda é nítida a dificuldade do RH tornar-se um parceiro estratégico?
Carlos Hilsdorf - Os resquícios da Era Industrial ainda fazem com que muitas pessoas olhem para os processos como se fossem desconectados das pessoas e pudessem obter resultados por sua excelência intrínseca. Esta visão do ser humano como apêndice do processo, como um número ou parte de uma máquina é responsável pelos maiores atrasos em organizações que tentam obter resultados à custa das pessoas e não em parceria com as pessoas. Infelizmente ainda é grande o número de organizações que, no discurso, pregam que as pessoas são seu maior ativo, mas na prática tratam as pessoas como meras engrenagens de um processo produtivo mecanicista. Ainda temos no Brasil muitas empresas que tratam o RH como o Departamento Pessoal de seus primórdios da Era Industrial.
RH - Qual o erro que o senhor considera mais grave, diante da atuação de RH?
Carlos Hilsdorf - Sem dúvida a falta de critério e senso crítico na contratação de atividades de treinamento e desenvolvimento de pessoas. É frequente vermos atividades que não passam de injeção de ânimo serem denominadas de motivacionais, ou dinâmicas desprovidas de fundamentação serem utilizadas apenas por serem diferentes. Ainda há muito de autoajuda em determinadas ações e isso compromete a credibilidade da área e os avanços necessários ao cenário atual. Isso precisa mudar.
RH - Esses entraves no caminho do RH tendem a perder força em curto prazo?
Carlos Hilsdorf - Felizmente, cada dia mais temos profissionais de RH mais maduros, com maior cultura pessoal e empresarial e menos suscetíveis a modismos ou visões poéticas e distanciadas da realidade do mundo dos negócios. Estes profissionais não perdem o melhor da essência do RH, mas ao mesmo tempo, adquirem os elementos que faltavam aos seus antecessores como, por exemplo, um conhecimento conceitual mais profundo sobre o universo dos negócios e a realização de práticas mais efetivas e sustentáveis em debates conceituais com as demais áreas. Estamos vivendo a melhor fase do RH na história do Brasil, sou um grande entusiasta e parceiro da área no país. Sempre defendi em minhas palestras e debates dentro e fora do Brasil a importância da área e o valor dos profissionais que se dedicam a esta difícil, mas cativante tarefa de realizar a Gestão de Pessoas em ambientes competitivos, contribuindo para o desenvolvimento das pessoas, organizações e da sociedade como um todo. As mais significativas revoluções em negócios vivenciadas na última década tiveram como precursores profissionais ligados ao RH, isto é fantástico.
RH - Quais suas expectativas para os profissionais de Recursos Humanos que atuam no Brasil?
Carlos Hilsdorf - Entendo que temos no Brasil o melhor contingente de grandes profissionais de RH do mundo, porque, além de competentes, os profissionais brasileiros não aplicam friamente técnicas e conceitos, eles envolvem-se visceral e espiritualmente no que fazem. Vivem e vibram a cada conquista. Minhas expectativas são as melhores, pois estamos deixando uma era de tentativa e erro e adentrando em uma era de maior profundidade conceitual e senso crítico, isto só trará credibilidade crescente para a área e melhores resultados para as pessoas e os negócios.

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